segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Imaginando formas, discursos, cenas, roteiros de improviso, etcetera, etcetera, etcetera

Hoje estou me dedicando a fundar um "chão dramatúrgico" para a nossa criação. Já li muitas coisas, ouvi uma porção de depoimentos e vi, finalmente, o filme "O caldeirão da Santa Cruz do Deserto", de Rosemberg Cariry - obra fundante desse projeto que optei por ver depois de já ter percorrido outros caminhos e de ter ido ao Cariri por duas vezes. Pedi liberação ao diretor Zé Walter para continuar aqui, atrás de um caminho que comecei a imaginar na manhã de hoje. Uma espécie de abertura da peça. 

Cartaz do filme "O caldeirão da Santa Cruz do Deserto", direção Rosemberg Cariry

Pesquisei também algumas referências no youtube. Fui aos vídeos do espetáculo "Cabras, cabeças que voam, cabeças que rolam", da cia. Teatro Balangan, dirigido pela Maria Thaís e escrito pelo dramaturgo Luis Alberto de Abreu. Desde antes tenho vontade de conhecer o texto dessa peça e agora ainda mais: solicitei uma cópia para uma pessoa próxima ao Luis, a dramaturga e pesquisadora Adélia Nicolete. Também ela tem sido uma referência a qual eu sempre recorro nos últimos anos - seja acessando seus blogs (materiavertente.blogspot.com / dramaturgiapontocorrrente.blogspot.com), seja via inbox, pelo Facebook. Lê-la amplia o meu olhar para o ofício de dramaturgo e as formas de se relacionar com a dramaturgia, concebida de forma autoral ou de maneira colaborativa, em processo. Também solicitei uma cópia do seu texto "Ponto Corrente", que lerei nos próximos dias a fim de conhecer mais a produção dramatúrgica da Adélia. Ler outros pares sempre amplia o horizonte e me ajuda enxergar novos caminhos na escrita. 


Outro trabalho que visitei em vídeos hoje foi o da cia. do Tijolo, "Concerto de Ispinho e fulô". A peça esteve aqui em Belo Horizonte quando o projeto de montagem do "Caldeirão" era ainda uma ideia da Bruna Chiaradia desaguada na parceria com o Zé Walter. Me lembro de ter escutado sobre eles pela primeira vez pela boca do ator Felipe Soares. Depois, já no Cariri, quanto fui à Nova Olinda, em janeiro de 2016, no encalço da história do "Caldeirão" e do beato Zé Lourenço, o Cícero Ferreira, que trabalha no SESC Juazeiro do Norte, me contou sobre a peça assistida por ele lá, "sobre o Caldeirão e sobre o poeta Patativa do Assaré". Dane de Jade também mencionou o trabalho do grupo, enquanto guiava a nossa ida ao Caldeirão e falávamos sobre o possível formato da nossa peça e qual espaço ela deveria ocupar (se a rua ou um espaço alternativo). Foi ótimo ter visto alguns vídeos do trabalho do pessoal de São Paulo - que ocupa tanto praças, quanto espaços alternativos: chamou a minha atenção a encenação e a abordagem dramatúrgica  realizada pela cia. do Tijolo para tratar da história da comunidade nordestina e suas conexões com São Paulo. Quero, nos próximos dias, entrar em contato com o grupo para ver se consigo o texto da peça. Dando um "google", achei esse blog deles aqui <http://concertodeispinhoefulo.blogspot.com.br/>



quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Primeira proposta de roteiro

ROTEIRO – CALDEIRÃO
PRIMEIRO QUADRO:
Romeiros e retirantes, desvalidos, chegam à cidade Juazeiro, a “a terra da mãe de Deus”. Cantam ladainhas, benditos, rezam, cumprem penitências e clamam pelo auxílio do Pr. Cícero. Trazem consigo trouxas, crianças, uns animais e outros tantos de nada. No meio deles está o jovem José Lourenço, vindo de Alagoas ou da Paraíba, em busca dos seus pais. O ano: 1890.
SEGUNDO QUADRO:
Sítio Baixa Dantas: dois mil homens e mulheres empenhados em diversas funções como o manejo da terra, plantas e animais, preparo dos alimentos, rezas, limpezas, etc. José Lourenço à frente dos trabalhos, beato já tornado. Nesse quadro surge o Boi Mansinho e podemos contemplar como as pessoas passam a se relacionar com o bicho.
TERCEIRO QUADRO:
Uma espécie de tribunal no qual Zé Lourenço é acusado de estimular o culto ao boi Mansinho e de fanatismo pelo deputado Floro Bartolomeu. Nesse quadro já podemos perceber o incômodo causado pelo beato nos membros da igreja e da política local.
QUARTO QUADRO:
Despedida de Zé Lourenço e Pr. Cícero. A ida para o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto: ida dos romeiros para o novo pedaço de terra. Chegada ao Caldeirão: um lugar seco, pedregoso, quente, quase desértico.
QUINTO QUADRO:
A fé jorra e a vida brota em abundância no Caldeirão: “nada é de ninguém, tudo é de todos”. Partilha do trabalho, das obrigações, dos alimentos. Cada pessoa empenhada pelo todo. Zé Lourenço, o penitente, carrega a sua Santa Cruz.
SEXTO QUADRO:
Severino Tavares em pregação pelo nordeste afora. Homens e mulheres, dos mais desvalidos aos mais ostentosos, escutam com atenção o beato falar das beneficies e prodígios ocorridos no Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Há também nesse quadro pessoas explicitamente incomodadas com o conteúdo do discurso de Severino. São elas que possivelmente questionariam Tavares se não o seu discurso não se trata de comunismo e a tentativa de implantar esse sistema no Brasil.
SÉTIMO QUADRO:
Morte do Padre Cícero.

OITAVO QUADRO:
União da igreja, militares, políticos e a oligarquia do Cariri para dar fim ao Caldeirão da Santa Cruz do Deserto.

NONO QUADRO:
Militares invadem o Caldeirão. A comunidade é posta em chamas. Fuga do Beato. Massacre dos resistentes. Emboscada para José Bezerra, que termina morto.

DÉCIMO QUADRO:
Bombardeio das terras do Caldeirão. Grupos de resistentes são apreendidos e humilhados. Imprensa local vangloria os feitos dos militares. A oligarquia comemora. José Bezerra é homenageado com o título de capitão.

DÉCIMO PRIMEIRO QUADRO:
Recomeçar no sítio União.

DÉCIMO SEGUNDO QUADRO:

Morte do Beato José Lourenço. Cortejo com seu corpo até Juazeiro do Norte.